segunda-feira, 21 de abril de 2008

Minhas impressões sobre o livro “O Médico e o Monstro”, de Robert Louis Balfour Stevenson

“Só uma consciência culpada pode ser tão inimiga do descanso”

Poole, O Mordomo

Essa foi, para mim, a frase mais impressionante do livro. Robert Louis Balfour Stevenson foi um cidadão Escocês, que viveu toda vida com uma tuberculose crônica. Como tinha dificuldade de praticar muitas atividades físicas, devido às crises, era acalentado pela babá com várias fábulas pitorescas de aventuras mil. “A Ilha do Tesouro” é de autoria dele.

Primeiro, o protagonista da aventura não é o Dr. Henry Jekyll, como pensei, mas seu amigo de infância Utterson. E o livro não condiz com o senso comum que o Mr. Hyde, versão antagônica seria em tamanho um gorila, percebi que essa modificação foi feita só pra “vender” o filme, mais um sentido do post das mentiras nos filmes. Na verdade, o Mr. Hyde no começo era bem mais baixo e mais franzino que o Dr. Jekyll.

Bem, o livro conta a história do Dr. Jekyll, uma pessoa de moral muito respeitada na Londres, num cenário industrial, com aumento absurdo da população urbana, assim uma diminuição da individualização. Como qualquer pessoa, Jekyll apesar de bom, tinha seus defeitos. Dentre eles estava uma inquietude de cobrança pessoal, por melhora de seus atos. O doutor gostaria de agir de outra forma em relação ao mundo, ser mais severo ele conta, mas não podia por causa de algumas regras sociais.

Assim sendo, ele estudou uma maneira de limpar o seu “eu” nocivo, ou id para nós, e se tornar uma pessoa mais perfeita. Ele então, a partir de experiências de sais conseguiu criar um elixir que iria dissociar o bom do mal. Mas o efeito foi a libertação do mal.

Como ele sempre foi uma pessoa boa, o mal era um ser menor, mais primitivo, franzino, como que mal alimentado. Isso me lembra aquela história do pajé que conta que o entre o cão bom e o cão mal dentro dele, só sobreviverá aquele que ele alimentar. Então, como Jekyll tinha sido bom a vida toda, o Mr. Hyde era um pobre coitado a ser desabado com um tapa só. No entanto, Hyde era livre de todas as presilhas sociais, tinha prazer em causar o sofrimento, em ser egoísta, pelo perigo, pelo mal em si. Daí, nas idas e vindas, o Dr. Jekyll, foi se drogando com o prazer de ter seus mais grotescos desejos saciados pelo Mr. Hyde, pois a consciência, apesar de ser alterada, a memória era única e corrente.

Mr. Hyde cooperava em certos atos para não ter sua morte certa, por isso, ele nascia, fazia as maldades, saciava os desejos de Jekyll e então, refugiava-se no mesmo para não ser encontrado. Mas as maldades foram crescendo e fortalecendo de maneira que Jekyll começou a enojar sua segunda forma por seus atos, pois Mr. Hyde exalava maldade, em seu andar, seu olhar, em sua face e tudo o que fazia.

Mas, as atuações do lado mal permitiram que este ganha-se força, vitalidade, tanto que este mudou de tamanho e força, chegando a tomar forma mesmo quando não se tinha tomado o elixir. Já para voltar a ser Dr. Jekyll, precisava tomar o elixir. Daí Jekyll percebeu que Hyde estava vencendo a briga da existência, e que sua fúria se enaltecia cada vez mais que lhe era combatido e trancafiado, ao ponto de se originar a qualquer sono, cochilo ou descanso do doutor. De forma bastante realista o elixir ia acabando e o doutor percebeu através de novos testes que o sucesso do elixir se devia a uma impureza do sal que lhe foi passado, portanto não conseguiu mais fabricar o elixir. Daí, culminou em um suicídio do Dr. Jekyll, frente aos danos que o Mr. Hyde iria causar.

Enfim, o livro trata de forma bem simples, como um ser humano, querendo se ver livre de seu lado negativo termina o atiçando, mas encontra nele uma fuga para saciar seus desejos malditos de maneira impune. Dessa maneira, o lado mal se fortalece e começa a brigar pelo comando das atitudes, nesse momento o lado normal, se vê desesperado por ter libertado a fera interior e não encontra solução alguma. Vejo que Stevenson fala da briga entre a mente e o desejo, o bem e o mal internos, a luta entre o que aprendemos que é certo e o que queremos fazer. No livro, ele não me apresenta nenhuma solução, apenas o fato de que se tentarmos nos livrar de nosso mal, terminamos a acordá-lo, e se dermos alimento à esse lado, ele ganha força e passa a influenciar em nossos atos. Sócrates diria que o ato de alimentar seria o pecado? Pois se você tem consciência de seu mal e o alimenta, você tem responsabilidade sobre ele.

Pode-se ainda vislumbrar uma visão de Stevenson sobre as drogas, pois permitem o prazer e a liberação de suas vontades enterradas para depois voltar à sobriedade e pensar “hora, eu estava fora de mim, então não tenho de ficar me sentindo culpado”. Pois se não tenho a chama da vela para iluminar meu caminho, tudo o que eu fizer não serei responsável, pois não vejo. Depois as drogas passam a controlar o controlador, tomando-o pelas rédeas a ponto que o original se vê num problema sem solução pois o passado não se reescreve e o fim de seu lado mal, significa o fim de si mesmo. Gostei do livro!