sábado, 8 de setembro de 2007

Contos Malditos

(inspirado em “Diga não às Drogas – Luis Fernando Veríssimo”.)

OBS: (Antes, instruo que conheçam a fonte de inspiração para que percebam a intenção do texto. A história é real).

Escrevo-lhes mais um texto pessoal. Um conto maldito do qual fui protagonista, vítima e ainda guardo seqüelas. Tudo começou como na maioria dos traumas, na infância.

Tinha eu a liberdade permitida aos meninos de 5 anos. Andar de bermuda, muito mal de cueca, para todos os lados. Ir para a casa dos outros sem preocupar-me com as horas, o clima, a fome ou quaisquer preocupações.

Mas tudo isso foi mudando. Fui presenteado com um relógio, extremamente grande e chamativo para minha minguada estrutura física. Tinha então o controle do tempo, ou melhor, a responsabilidade do tempo. Daí então não mais tirei o relógio do pulso, nem pra tomar banho, pois não podia perder a cronometragem dos minutos expendidos. Tinha a preocupação da hora pra ir deitar, a hora em que acordava a hora do almoço, do desenho (essa eu já tinha), a hora disso, a hora daquilo etc. Mas as coisas foram se complicando quando recebi de presente uma carteira. Aquele objeto com tantas alocações precisava ser preenchido, e eu só tinha a carteirinha da escola. Eu comecei a sentir a necessidade de dar uso aquele presente.

Passei a guardar papéis com recortes de desenhos, figurinhas de álbuns de coleção, chicletes, lápis, borracha... Não percebi, mas estava me viciando. Daí a coisa foi ficando maior. Eu não sabia mais como a minha vida podia existir sem esses utensílios. Passei a andar pra todo lado de mochila. Visitar um amigo fazia minha mãe pensar que eu tramava fugir de casa. Eu precisava levar a carteira de identidade (podia sofrer um acidente), chicletes, biscoito (se ficasse na rua e sentisse fome?), água, guarda-chuva (e se chovesse?), roupas de frio (podia esfriar), bloquinho de papel, lápis, borracha (se eu sentisse inspiração e não escrevesse? Perderia!), uns livros (pra me entreter), celular, cartão de telefone, chinelo ou tênis, óculos escuros, touca, desodorante... eu já tinha dificuldade de sair sem estar preparado pra tudo. Percebi isso quando tinha dor nas costas por causa do peso da mochila e quanto à mochila passou a ter o meu cheiro. Era quase um simbionte, passava a fazer parte de mim e eu não conseguia ficar sem ela, pois me sentia despreparado para o mundo.

Percebi que estava complicando a minha vida, imaginava que necessitaria de um carro para poder passear sem me preocupar e que ao invés de uma casa, compraria um trailer, sim, um trailer com um compartimento de despensa gigantesco que pudesse guardar meio mundo. Nessa época adorei o desenho do gato Félix, pois ele possuía uma bolsa sem fundo que era meu desejo secreto. Eu sentia desejo de ter uma pochete, me sentiria o Batman...

Com o incentivo de minha dor nas costas e projeção de meu futuro passei a passear de chinelo, bermuda e camiseta. Em casos drásticos me arriscava até a cidade mais próxima apenas com o celular e o dinheiro da passagem. Foi um período difícil, mas consegui superar o pior da crise. Hoje em dia, saio com um boné, um mp3, dinheiro e chaves de casa. Às vezes me pego trazendo outra blusa na mão um cartão de crédito para comprar “algo que venha a precisar”. Quando passeio de carro realmente relaxo ao ponto de levar alguns objetos indispensáveis como casaco, roupas, desodorante, biscoitos, água... mas pelo menos não me trazem tanto desconforto.

Se você está nessa situação, calma tenha perseverança de que você irá superar. Passe a comprar o pão na esquina sem levar todos os documentos, tente passear sem levar sempre uma máquina fotográfica, apenas o necessário, o extraordinário é demais.

Perseverança, eu sei que você consegue se superar.

Informação: Isso é um sintoma de DOC, Distúrbio Obsessivo Compulsivo, carregar um monte de coisas que não são necessariamente necessárias. (sim, quis escrever assim).

4 comentários:

Diego Koala disse...

Humm, uma crônica. Nunca li Fernando Veríssimo. Talvez eu deva tentar qlq hora.
Sobre oq vc escreveu, eu carrego sempre as mesmas coisas faz mto tempo, nunca tive esse problema. Ando com o celular(esse sendo o ultimo item a entrar na lista), minha carteira com documentos e dinheiro e chave(nem sempre). Mas esses são necessários pra mim, tanto q verifico umas dez vezes antes de sair.
No seu caso realmente isso parecia ser algum transtorno psiquico(naun q eu seja especialista, mas com certeza é um tanto estranho). Mas como vc msm disse, com perseverança nós conseguimos mtas coisas. E acho q no seu caso foi uma mudança interessante e benéfica; provavelmente o período de "reabilitação" foi um tanto difícil pra vc: sempre procurando as msms coisas várias vezes por dia nos lugares privilegiados q ocupavam.
E veja como a tecnologia hj pensa nos casos como o seu: integração total. Com um celular vc pode fazer compras, tirar fotos, ouvir musica, anotar recados, jogar, telefonar(!), localizar-se(GPS), ler livros, e mais qlq coisa q eu nem sei.
Vamos evitar esse materialismo, essa psicose! A gente pode viver com mto menos!
Já me prolonguei demais. Bom texto kra, falow!

Aí pessoal, vamos discutir!!! Vai q eh tua Marc!

Marcello disse...

Essa parada de mochila é foda. Fui escravo desse hábito por muito tempo. Até recentemente, eu levava todo dia pro trabalho, mesmo que não precisasse de nada lá dentro. Afinal, ninguém precisa de mochila pra carregar o pack celular + carteira + chaves. Dai agora tem dias que vou sem mochila mesmo e povo lá até estranha. Só levo agora em dias de curso, que preciso carregar livros, e quando tá ameaçando chover/fazendo frio, q é quando levo um casaco ou uma blusa.
Creio seja uma fase mesmo, embora as motivações possam ser as mais diversas([2]naun q eu seja especialista[2]).
A sociedade artificial realmente mexe com nossas cabeças...

Alice disse...

::ótimo texto..

Nós e nossos eternos vícios..!!

Pensava que isso ocorria mais com nós mulheres, acostumadas a levar a "vida" na bolsa, mas pelo q vejo, é bastante comum entre vocês h...
Obrigada pelo texto que me fez querer dedicar alguns minutos do meu dia a essa análise.
O mundo nas costas!!
Encontra-se de tudo,
Chaves de casa, do trabalho, da dispensa do trabalho....????
A desculpa capitalista d q nós mulheres necessitamos de batons, perfumes, rímel, lápis, sombra, roupa extra, sapato extra...tudo extra, essa que nos faz carregar as milhares de coisas por ai a fora.
O seu comentário sobre o cartão de crédito foi perfeito.
_Algo que venha precisar..!!!
Bom...já quebrei alguns e já chorei por eles também, mas minha opinião não muda... ele é um "encosto" para a humanidade.rs
Vício!!!
Quero um dia poder sair de casa..sem os celulares, sem a agenda, sem os livros.
Pretendo sair de casa apenas comigo mesma...
Tentarei fazer isso no próximo fds...rs
tentarei!!!

>>>>



:bju

Anônimo disse...

Fala meu irmão !!! Muito interessante seu blog, gostei bastante das reflexões, apesar de não ter lido todas...só passei aki para parabenizá-lo por escrever com conteúdo, qualidade difícil de ser encontrada na internet hoje em dia...rs...apesar que, quando vi o nome do seu blog, achei que teria algo a ver com futebol, hahaha, afinal "Nossa Mesa Redonda" parece nome de programa esportivo....rs...mas não tem nada a ver, parece com os diálogos que eu tinha com meu professor de filosofia....é muito proveitoso refletir sobre as coisas....afinal como diria Einsten:

"A mente que se abre a uma nova idéia, jamais volta ao seu tamanho original"...rs

Voltarei mais tarde para ler mais, não tenho blog mesmo, então leio os dos outros..rs

Abraço e se precisar de alguém para a mesa de debates estamos aí..rs..o meu e-mail é vidalbusinessman@bol.com.br

Anderson