Me impressiono. Me impressiono com os protestos de uma nação que não nasceu para isso, não nasceu para protestar. Uma nação pobre, pobre de ideais, de idéias e, acima de tudo, de ação. Nação brasileira das outras mil, iluminada ao sol opaco do novo mundo, que deixa morrer suas crianças para só então sair às ruas, em tentativas vãs de reaver um tipo de paz que só haverá até a sepultura de seus filhos.
Me impressiono com a cara-de-pau dos que bradam tanto quanto seus pulmões permitem frases que seriam melhor ditas se assim não fossem e que põem a cara na televisão, juntam as mãos e fingem acreditar no futuro que pregam. Fingem acreditar em boas pessoas, em boas índoles, em soluções rápidas, quando, na verdade, só esperam sentados até que esta lhes caia em suas cabeças descrentes.
Me impressiona também a facilidade com que os gritos se esvaem, sem eco, ocos, perdidos em uma enxurrada de novidades políticas, humorísticas, tecnológicas. A velocidade que traz à tona um punhado de ideais (utópicos, não sob o ponto de vista da aplicabilidade, mas o da solidariedade) sobre a resolução dos mais diversos problemas, é a mesma que os leva embora. O povo esquece, e isso ele sabe fazer de uma forma que já não me impressiona mais.
* * *
Observação importante: a regra culta NÃO me permite iniciar um parágrafo com o pronome átono "me" (e nenhum outro), mas a licensa poética e a minha cara a tapa resolvem o problema da burocracia.
quarta-feira, 24 de setembro de 2008
A fantastica arte da Hipocrisia ou Passeatas para a Paz: Vida e Morte
Assinar:
Postar comentários (Atom)
3 comentários:
Esquecimento é um flagelo nacional há muito tempo mesmo. Da imobilidade à mobilização, e quase imediatamente depois, à dispersão commpleta. De onde virá uma solução menos tópica e desesperada?
Porreta mano! O Brasil é, por fim,uma terra italiana. Nem tenho como dizer que não estou incluído, generalizando, todos nós não gostamos de gastar nosso tempo fazendo algo. Parece que é fazer trabalho de outro. Claro que isso também não é fácil, quem tem de procurar trabalho, cuidar de criança, sente-se cansado e sem saco para se preocupar e agir sobre os problemas "da sociedade". Isso me lembra um raciocínio de controle populacional. Tendo alimentação mínima, problemas sociais e de saúde, mas a diversão para extravasar a energia, se mantém o povo na coleira.
Quando vi a propaganda das eleições com a Ana Maria Braga dizendo que "se seu candidato não tem como prioridade a educação, escolha outro", parei e pensei: é, é verdade, político que se preza pende, primeiro, para o lado da educação.
Pena que "político que se preze" é tão raro quanto um professor primário da rede pública satisfeito com o trabalho.
Postar um comentário