Fui comprar um celular. Meu celular ainda faz parte daquela época em quer ter uma única cor azul ou verde era o auge das telecomunicações. A única coisa que eu queria era botar uma música em formato .mid pra tocar no celular quando alguém me ligar, só! Perguntei humildemente aos meus compatriotas sobre celulares de baixo preço e com funções mínimas. Fui atropelado com perguntas sobre quantos pixels eu queria na câmera, quantos jogos eu baixo por semana e se 3G era pouco pra mim. Desde quando o celular ficou um papo tão interessante? Conversam sobre modelos de celular, como quem fala dos modelos de carro ou de filmes. Tantas nuances, detalhes, ... “ah, eu gosto daquele que abre lateralmente” “eu gosto do som do WXY8KLIJZZ2-2937”. Tantos modelos e números que por um momento eu pensei se não era eu que estava errado em não saber de um assunto tão ... interessante.
Claro que comprar alivia o stress, satisfaz o ego e dá um sopro de novidades na rotina, mas foi tamanho que eu quase me senti estranho ao perceber que eu estava fora desse universo telecomunicativo. Não estou fora do processo de comprar-para-preencher-carência-pessoal, quase ninguém está livre disso, os livres geralmente estão recitando mantras no exato momento. O ser humano foi condicionado capitalisticamente para isso. É um grande círculo vicioso, primeiro a mídia mostra alguma coisa ruim, vamos pegar algo fácil ... beleza ! Primeiro temos o problema, todo mundo que ser atraente o mínimo para não ficar para titio ou titia. Daí temos em nossa sociedade verdadeiras(os) deusas(es) gregos, que possuem perfeição física. Então a mídia pega esse estereótipo e diz que você pode ser assim por apenas uma graninha no fim do mês.
Horas, algumas pessoas são bonitas por natureza, outras se esforçaram em exercícios físicos e alimentação melhor, mas as pessoas não entravam em depressão por não serem maravilhosos, aceitava suas imperfeições e continuavam.
Mas se eu posso ser aquilo que eu quero, pagando uma graninha para uma lipo, um xampu de extrato bio-pseudo-vegetal, oras bolas, me dá vende esse elixir da juventude aí!
O caso é que como não podemos comprar as coisas mais caras que iriam nos “satisfazer”, aceitamos pequenos prazeres, um celular é um diminutivo do poder de compra e de satisfação de um carro. Se lançarem agora moda de óculos com hastes de ouro e brilhantes, logo venderão hastes banhadas em ouro e vai virar uma febre, porque queremos provar que podemos, queremos enganar os outros e a nós mesmos que somos capazes, nos distanciando do amor próprio, de sentido da vida, da garra atrás de nossos sonhos. Como não concluímos nossos sonhos, concluímos compras de fim de semana, elas servem como uma copo d´agua pra um dia de calor. Refrescam, mas não resolvem por mais de alguns minutos. E como arrumar a casa envolve uma faxina geral, nos contentamos em passar um pano úmido, retirar a poeira, sentar no sofá e ver TV aos domingos.
E agora que já tomei meu “copo d´agua” pra saciar minha vontade de ser escritor, dá licença que tenho comprar uns livros pra saciar minha vontade de ser intelectual.
Um comentário:
Sou adepto dos celulares low-fi também. Aliás, low-fi é um termo muito chique para vagabundo, que é mais adequado ao meu telefoninho. Quem mandou eu querer usá-lo "apenas" para falar? hee, Abraço
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